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terça-feira, 14 de junho de 2011

Quando a manha é mais do que manha

Alice sempre foi "esquentadinha", desde a maternidade, e eu não estou brincando. Nunca foi um bebê de deixar barato uma fome, uma fralda molhada, um brinquedo fora do alcance. Além disso sempre foi falante. Disparou a primeira palavra aos quase 10 meses e depois não parou mais. Juntando uma coisa com a outra, sempre foi uma criança que deixa claro o que quer, na hora que quer. E mamãe aqui que rebole para ensinar a ela o conceito de esperar. Mas ela não é uma criança malcriada e não é daquelas que faz manha à toa.
Mas, recentemente, eu vinha notando uma tendência crescente a pequenos shows, em horário diferentes. Cheguei a comentar aqui no blog sobre um ou outro episódio. Mas eles vinham se repetindo e a intensidade e freqüência vinham aumentando. Por conseqüência, eu vinha me sentido a pior das mães.
Coincidentemente (ou não), desde que começaram a falar de festa junina na escola, Alice vinha se recusando a participar dos ensaios e alegava odiar a música. Esse fato eu interpretei, inicialmente, apenas como ela não querendo se vestir de cowboy (esse ano a turma dela representará as festas populares country brasileiras). Entendia que ela queria usar seu vestidinho de babado e seu chapéu de tranças. Mas o que era uma simples recusa foi crescendo até chegar em verdadeiros espetáculos de fuga e choro na hora dos ensaios, mesmo a professora dizendo a ela que ela só precisaria participar se quisesse, e que, se não quisesse, poderia ficar brincando no cantinho da sala de música.
Quinta-feira, quase na hora de dormir, Alice fez pipi nas calças. Já está desfraldada tem muito tempo, e acidentes só acontecem atualmente quando realmente está MUITO apertada e não tem um banheiro por perto, o que não era o caso, pois estávamos em casa. Um pequeno alarme soou na minha cabeça. Apesar de todos me dizerem que é fase e que eu estava procurando pelo em ovo.
Arrumeira para dormir e ela começou a dizer que queria que o pai deitasse com ela, ainda que soubesse que o pai ainda não tinha chegado do trabalho e que ainda demoraria a chegar. O que era uma leve insistência, rapidamente escalou para um show completo, com direito a pernas chutantes e gritos de quebrar vidros.
Eu, sempre que acontece uma coisa assim, tento as técnicas tradicionais (deixar sozinha pensando, colocar brinquedos de castigo, etc) até a hora que vejo que ela não conseguirá se acalmar sozinha. É nesse momento que eu abandono toda e qualquer regra de educação, agarro ela bem firme nos braços (naquilo que chamo de abraço de urso), impeço seus movimentos, começo a balançar suavemente como que ninando-a, e vou falando mansinho no ouvido dela até ela começar a se acalmar. Só então tento que ela me explique o que está acontecendo.
E foi nesse momento que ela soltou tudo de uma só vez: ""Meu pai não vai na festa junina. Na outra festa junina ele não foi. Ai você foi po lugar dele fazê costuinha e ficou lá com ele. E eu fiquei na casa da minha vó. E só ia vê vocês um pouquinho. Tinha peixinho e eia muito legal, mas vocês não foiam paia casa."
Como que por encanto ela conseguiu colocar todos os escândalos e todas as brigas das semanas anteriores em perspectiva e tudo se explicou.
Ano passado, no dia da festa junina, meu marido teve que fazer um exame complicado que o impossibilitou de estar presente. O resultado do exame foi péssimo e já saindo do exame, precisávamos tomar providências, portanto eu acabei tendo que tirá-la correndo da festa. Quando chegamos em casa foi uma correria e Alice ficou no meio de tudo, vendo o pai e a mãe chateados. Dois dias mais tarde ele seria operado de emergência, forçando a família a se separar por mais de 24h pela primeira vez na vidinha dela. Eu e o marido no hospital, ela na casa da avó, por quase 7 dias.
De alguma forma ela guardou tudo isso numa gavetinha e a menção de festa junina trouxe tudo à tona.
E, assim, aprendi com a minha filha, que sempre é preciso parar e olhar as coisas dentro de um contexto maior, as vezes até meio distantes. Aprendi que a manha nem sempre é só uma manha!
Conversei longamente com a pequena explicando a ela que o que aconteceu ano passado não voltará a acontecer, mas que ela é livre para decidir se quer ou não dançar. Deixei claro que qualquer que fosse a escolha dela, nós, pai e mãe, estaríamos lá para curtir a festa junina com ela.
Hoje já soube que no ensaio dançou contente e, no carro, voltando para casa, já veio cantarolando a música de "caiboi"...

5 comentários:

  1. mari,
    como pecisamos estar atentas a estes sinais. é incrível como a memória destas crianças é eficiente!

    adorei seu super comentário lá no blog - sempre alimentando os debates! e te mencionei no post de ontem...

    beijoca

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  2. Mari,
    Vc tem toda a razão, devemos ficar atentos a tudo o que de passa ao redor de nossas crianças e não rotular comportamentos. Isto porque elas possuem um entendimento diverso do da gente, um olhar infantil sobre as coisas, coisas e fatos que às vezes nem percebemos, mas elas percebem! Rs
    Abração, Cassiê.

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  3. puxa... tadinha estava com todos esses sentimentos guardados... ou melhor, extravassados de uma forma ruim...
    Obrigada pelas dicas no post de ontem...Não tentei o copinho, ainda. Vou comprar um e cruzar os dedos...

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  4. Parabéns pela sua atitude de não ignorar sua intuição qdo ela dizia que o comportamento arredio era algo além de manha. As crianças tem uma sensibilidade imensa e temos que saber ouvi-las.
    Bjos pra vcs!

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  5. Fiquei até emocionada me colocando no teu lugar... A coisa mais maravilhosa e perfeita do mundo é ser mãe; e ao invés de apenas ensinar, aprender diariamente com nossos filhos! Adorooooooo; beijos.

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